Índios brasileiros realizaram a
primeira confederação das américas

O último tamoio, alegoria
simbolizando o fim da Confederação dos Tamoios. Tela de
Roberto Amoedo, acervo do Museu Nacional de Belas-Artes
do Rio de Janeiro |
Na realidade, os franceses e
portugueses não estavam nem aí com os índios, seja lá qual nação
pertenceria. Eles atraíram os índios a fim de um único
propósito: atender ao processo de colonização, com isto também
atiçavam a rivalidade entre as nações.
Por muitos anos houve guerra entre eles: portugueses e
franceses, Tupiniquim e Tupinambá. Guerras sangrentas, que além
de centenas de mortos e feridos, muitos índios eram capturados
pelos perós a trabalharem nas culturas de cana e nos engenhos.
Interessantes que os Tupi não tinha medo da morte, mas temiam a
perda da terra e da liberdade.
Os missionários portugueses diziam que o início das guerras
entre as nações de língua Tupi tinham origem em sua
ancestralidade: que consistiam em: 1- a trama de vingança, 2-as
praticas de sacrifícios e antropofagia, 3- a complexa
configuração das alianças entre as aldeias. Visão contestada por
John Manoel Monteiro, que diz que no decorrer do século XVI,
Tupiniquim e Tupinambá envolveram-se num ciclo de enfrentamentos
armados, cujo ápice foi a Confederação dos Tamoios, tudo por
conta dos métodos de colonização.
Centenas e até milhares de combatentes, por terra ou por mar
transformaram esta guerra num evento espetacular. A guerra era
um fator decisivo para os índios, porque situava a nação tupi em
uma dimensão entre o passado e o futuro dos grupos locais, sendo
a vingança realizadas de duas formas: pela morte do inimigo na
batalha ou pela captura do oponente para o banquete
antropofágico. Assim a guerra, o cativeiro, e o sacrifício,
constituíam a base das relações entre as aldeias.
O plano de formar uma confederação se deu pela necessidade e
pela audácia e coragem de Aimberé, feito prisioneiro por Brás
Cubas, fundador da Capitania de Santos. Cubas havia comandado o
ataque a uma aldeia chamada Uruçumirim, no Rio de Janeiro.
Prendeu todos os sobreviventes, inclusive o cacique Kairuçu, pai
de Aimberé. Revoltado Aimberé planejou em silencio uma rebelião
a fim de libertar seus irmãos de nação, esperando o funeral de
seu pai, que morreu velho e cansado pelos trabalhos forçados,
impostos pelos colonizadores em são Vicente.
Aimberé se fez convertido a Cubas. Sua estratégia tinha
resultados práticos como à permissão de realizar um funeral
digno a seu pai. A rebelião e a fuga acontecem no funeral.
Muitos prisioneiros fizeram questão de matar os portugueses, uns
pela vontade de fugir, outros pela forma que vinham sendo
tratados. Cunhambebe contava a partir daí com um ótimo aliado,
mais um herói das causas indígenas. Aimberé, ousado e muito
astuto colocou em prática seu plano de reunir as tribos em uma
única nação. De aldeia em aldeia, foi ganhando seguidores. Era
fácil o convencimento, bastava contar a situação lastimável que
se encontrava as tribos. Algumas ficaram em estado de miséria:
os guaianases, goitecas, aimorés e carijós.
O primeiro a se juntar a Aimberé foi seu amigo de infância,
conhecido como a “Grande Palmeira”- Pindabuçu, que esteve no
sepultamento de Camorim, morto pelas costas por um português,
filho de Aimberé. A filha do Grande Palmeira, Iguaçu, estava
interessada em Camorim. Pindabuçu era conhecido por sua destreza
e impetuosidade.
Começaram por Angra dos Reis, onde tinham de convencer
Cunhambebe, o mais destemido de todos os chefes tribais da
época, conseguiram. Esse é considerado o primeiro passo para a
criação da Confederação dos Tamoios (Primeira Confederação das
Américas). A partir daí foram ganhando aliados como Coaquira, de
Iperoig, que teve seu território invadido e devastado várias
vezes.
Cunhambebe foi escolhido como chefe dos confederados na primeira
reunião ordinária da confederação, nome este indicado por
Aimberé. Após aceitar a indicação Cunhambebe declarou guerra aos
Péros. Efetivamente de São Vicente a Bertioga, de Iperoig ao
Planalto de Piratininga, utilizando toda a margem do Paraíba, os
confederados lutavam. Do que sabe a Confederação durou 12 anos.
As lutas se davam em maior parte nas fazendas dos litoral e na
chegada dos navios e eram marcadas por requintes de crueldade e
raiva, ainda por táticas interessantes, próprias para cada
situação.
De forma estratégica e silenciosa, agora com a participação das
tribos indecisas e a dos sertões, os confederados avançaram
contra a Vila de Piratininga. Combate este realizado nos dias 8
e nove de julho de 1562, evento assim descrito por José de
Anchieta: “Os montes ruíram no estrondo e na poeira da batalha.
Cão Bravo morreu, o que fez com que os Tamoio fugissem.
Martin Afonso também sucumbiu”. Piratininga só sobreviveu por
que Tibiriçá, batizado com o nome português de Martin Afonso,
conseguiu mobilizar guerreiros de 9 a 10 aldeias de Tupiniquim
fiéis a coroa. Tibiriçá foi considerado o salvador de
Piratininga. Ele havia rejeitado a proposta de Araraig e do seu
feroz sobrinho Jogoanhara (Cão Bravo) para abandonar as causas
dos malfeitores. Não houve acordo, milhares de flechas e lanças
cortaram o céu de Piratininga naqueles dias, crescendo a
violência da batalha e os gritos dos combatentes, um mar de
sangue e corpos se instalou naquele chão.
Após este episódio, em 1563, Anchieta visita Santos e Itanhaém,
lá encontra Nóbrega que havia planejado um plano longamente
amadurecido de firmar as pazes com os Tamoio, que navegando pela
Bertioga trazia sua preocupação com o futuro da capitania. Em
companhia de José de Anchieta, embarcaram para Iperoig e....
Bem, isso veremos na próxima edição.
EZEQUIEL DOS
SANTOS